quarta-feira, 22 de outubro de 2014

REQUERIMENTO DE INSCRIÇÃO NO PRÊMIO KIZOMBA DE POESIA


Atendendo a pedidos estamos sugerindo um modelo. Use-o. Fique a vontade.



SOLICITAÇÃO DE INSCRIÇÃO NO PRÊMIO KIZOMBA DE POESIA


Eu,                          NOME COMPLETO                                                                , portador de RG nº   ______________Órgão Expedidor:  ________,  inscrito no CPF sob nº __________________ , residente na rua ____________________________________________, nº  ___________, Aptº _______ Bloco_________ Condomínio________________ No bairro ________________________ em __CIDADE__________ - _____UF______ ,   ______________, venho, por meio desta, solicitar a minha inscrição no PRÊMIO KIZOMBA DE POESIA .
O poema que apresento à Comissão Organizadora tem o seguinte título: _________________________________________ e segue como anexo a este e-mail e atende as especificações contidas no regulamento.
Inscrevendo-me, confirmo que li o Regulamento e que estou ciente e plenamente de acordo com todos os seus termos.
Meus contatos telefônicos para contato são: (     )___________ ou  (    ) __________________.
O e-mail no qual receberei as informações pertinentes ao concurso é:_________________________ ou _________________________________
Meu site é:____________________________________
Estou na rede social: ____________________________com o seguinte endereço _____________________

Cidade, e data
Atenciosamente

Assinatura.

sábado, 11 de outubro de 2014

11 MANEIRAS COMO MAYA ANGELOU ENSINOU A SER UMA MULHER MELHOR
The Huffington Post  | De Emma Gray
Publicado: 29/05/2014 18:29 BRT Atualizado: 29/05/2014 18:30 BRT


"Eu sou uma mulher, fenomenalmente. Mulher fenomenal, sou eu".
Maya Angeou, a adorada escritora, poeta e ativista que morreu na quarta-feira (28), era até mais "fenomenal" do que as palavras de um de seus mais famosos poemas pode expressar.

Durante 86 anos, ela escreveu sete autobiografias, foi ativa no movimento de direitos civis e trabalhou para Martin Luther King Jr., recitou um poema na inauguração presidencial de Bill Clinton em 1993, tornou-se uma professora universitária, ficou amiga da Oprah e recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade em 2011. Como o seuobituário no The New York Times
 diz, antes de sua primeira autobiografia ser lançada em 1969, Angelou já havia sido "uma dançarina, uma cantora de calipso, uma motorista, uma mãe solteira, uma editora de revista no Cairo e uma assistente administrativa em Gana".
Em homenagem à sua vida incrível, aqui estão 11 lições que todas as mulheres podem aprender com Maya Angelou:
1. No momento em que o amor bate, precisamos ser corajosos. E, de repente, percebemos que o amor exige tudo de nós, e sempre exigirá. Ainda assim, é só o amor que nos liberta." -"Touched By An Angel" (O toque de um anjo)


2. As mulheres precisam apoiar umas às outras.
"Toda vez que uma mulher se enfrenta, sem nem perceber que isso é possível, sem qualquer pretensão, ela enfrenta todas as mulheres." 


3. A chave do sucesso é simples: satisfação.
“Sucesso é gostar de si mesma, gostar do que faz, e gostar da maneira como você faz o que faz.” 





4. Faça as mudanças que quiser, mas aceite as coisas que você não pode controlar.

“Se você não gosta de alguma coisa, mude-a! Se você não pode mudá-la, mude a sua atitude. Não reclame.”
 

5. Confie em sua voz e instintos.


6. Aprenda o valor do perdão.

“Este é um dos melhores presente que você pode se dar. Perdoe todo mundo.”


7. A aparência não é tudo. Nem um pouco.
“As mulheres bonitas desejam saber de onde vem os meus segredos. Eu não sou bonita ou feita para atender ao tamanho de uma modelo fashion. Mas quando falo isso a elas, elas acham que estou mentindo. Digo, é o alcance dos meus braços, a curva do meu quadril, a largura do meu passo, a onda dos meus lábios. Eu sou uma mulher, fenomenalmente. Mulher fenomenal, sou eu.
-"Phenomenal Woman" (mulher fenomenal)


8. Arrisque "quebrar tudo".
“Eu adoro ver uma garota sair e conquistar o mundo pelas lapelas. A vida é escrota. Você tem que encarar e quebrar tudo.”
 



Maya Angelou and Gloria Steinem on their way to the March on Washington on August 27, 1983 in Washington, DC.


9. Se você está vivendo uma fase ruim, no relacionamento ou trabalho, saia dessa já.
"Seguir um caminho totalmente novo é difícil, mas não mais difícil do que permanecer em uma situação que não está de satisfazendo como mulher." 


10. Lembre-se sempre de rir.
"As mulheres devem ser resistentes, sensíveis, rir o máximo possível e viver uma vida longa." 


11. O que você fizer as pessoas sentirem é o que ficará marcado para sempre.
"Aprendi que as pessoas vão esquecer o que você disse, esquecer o que você fez, mas elas nunca vão esquecer o que você as fez sentir."



Fonte: http://www.brasilpost.com.br/2014/05/29/maya-angelou-frases_n_5412656.html

NOVO LIVRO DO ESCRITOR E POETA CUTI REPETE A CELEBRAÇÃO DA LITERATURA AFROBRASILEIRA 



TEXTO: Redação | FOTO: Divulgação | Adaptação web: David Pereira
O livro do escritor Cuti, Kizomba de vento e nuvem | FOTO: Divulgação
quis esta quizomba

que zomba

chora, ri, faz moganga


esta quizomba

acolhe ou tromba

ginga, tomba, levanta

canta, dança e sua

sua matriz


sede de antigas chagas?

amor

chafariz


quis esta quizomba

escrita a carvão e giz

para o preto no branco

ser mais feliz.


É com este poema que o escritor Cuti, um dos mais cultuados do país quando se fala de literatura negra brasileira, começa o seu mais novo livro, “Kizomba de Vento e Nuvem”. Ao todo, são 108 poemas divididos em três grandes temáticas: Preto no Branco, Afetos e Desafetos e Matutando, que robustecem a divulgação da dignidade social e racial da literatura afrobrasileira.

A sentimentalidade dos poemas transcende não somente o tema do racismo, algo que Cuti conhece e trata perfeitamente, mas também a questão da hierarquia social brasileira, que embora não tenha critérios estritamenteraciais, foi e continua sendo até hoje formada em sua base por descendentes de antigos escravos africanos. Cuti, pseudônimo de Luiz Silva, é formado em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), com mestrado e doutorado na mesma área pela Unicamp. Foi um dos fundadores do Quilombhoje-Literatura e um dos criadores da coleção Cadernos Negros, série na qual publicou poemas e contos em 34 dos 35 volumes lançados até 2012. Seus quatro últimos trabalhos no gênero literário colocam em várias perspectivas temas de amplo significado da literatura, envolvendo tanto a produção humana quanto as suas políticas, ideologias, discriminações de diversas ordens e outras concepções estéticas diversas.

Um destes trabalhos anteriores que tiveram forte influência neste novo projeto é “A consciência do impacto nas obras de Cruz e Sousa e de Lima Barreto”. Publicado em 2009, o livro busca a aproximação das obras de Cruz e Sousa e Lima Barreto, tão diversificadas e complexas, mas que juntas se completam. O caminho escolhido porCuti neste projeto, ao contrário da maioria das obras do gênero, procura não focar na diferença entre a experiência subjetiva do negro e do mulato no campo da criação literária,mas sim manter a união entre os gêneros. Considerando que estas obras foram publicadas à margem do campo minado pela escravidão e pelo racismo, o sujeito étnico percorre seus textos criando uma tensão com o discursoracial dominante, numa oposição direta ou indireta. Cuti seguiu seu caminho e publicou outras obras que culminaram em “Kizomba de Vento e Nuvem”, como “Literatura negro-brasileira” (2010), “Lima Barreto” (2011) e “Quem tem medo da palavra negro” (2012). Com a base literária já definida, Cuti pôde trabalhar o universo de poemas, contos e teatro, e criar a obra do “Kizomba”. O livro marca mais um ponto para o conjunto de obras que não tomam a questão racial como ponto central, mas que também não silenciam sobre os variados e complexos tópicos relativos a estas relações. O livro também aborda outras tantas facetas da vida nacional, demonstrando a importância de a poesia ir além das questões de fundo amoroso, abarcando assuntos mais espinhosos e inusitados.

A ideia, segundo o próprio autor, é iluminar o mundo nas suas mais misteriosas cavernas. A obra é um entrelace de sonoridades, ora harmônicas, ora dissonantes, e metáforas que redimensionam com acuidade nossa percepção dos sinuosos caminhos da consciência e das emoções. A pobreza, o atraso, a opressão, o racismo, a ignorância e a degradação moral estão lá, mas de forma poética e muito mais suave do que nos livros anteriores. Trata-se de uma experiência literária afrobrasileira pura, em que o autor busca aumentar a sua própria luta, em seus próprios termos e sua própria cultura. O discurso poético de Cuti vincula-se ao do sociológico Leonardo Boff, que afirma que só quem tem na pele a opressão pode liberar os oprimidos. Eé através da poesia que Luiz Silva “Cuti” assume a voz do seu povo para o conforto, a esperança, e a força vital das indagações mundanas exteriores e interiores.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

EU SOU A TERRA - CORA CORALINA



























Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.

Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranqüila ao teu esforço.
Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.

Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.

A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.

E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranqüilo dormirás.

Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.



Cora Coralina


LIMA BARRETO, JORNALISTA E ESCRITOR DO POVO BRASILEIRO

Somente após a sua morte, Lima Barreto foi reconhecido como um dos mais importantes literatos brasileiros; quando em vida, o seu jornalismo militante e de princípios éticos foi o que mais o distinguiu.

Literariamente podemos afirmar que encarnou o difícil momento de continuidade e ruptura entre um passado que morria com Machado de Assis e um futuro que pertenceria ao movimento modernista. Se por um lado foi fiel ao modelo do romance realista e naturalista, resgatando as tradições cômicas e picarescas da cultura popular, por outro, seu estilo despojado, fluente e coloquial, tanto influenciaria os modernistas, quanto antes havia enfurecido os parnasianos.

Com relação ao jornalista Lima Barreto, este não possuía apreço especial pela grande imprensa de sua época. Sua atenção era mais voltada para a imprensa alternativa. “ Gosto dos jornais obscuros, gosto dos começos, da luta entre a inteligência e a palavra, das singulariedades, das extravagâncias, da livre ou buscada invenções dos principiantes”. Coerente com esse pensar, por toda a vida foi solidário com aqueles que lutavam por causas que ficavam acima “dos mesquinhos interesses pessoais”.

Em 1907, coerentemente, editou uma pequena revista, O Floreal. Verdadeira peça jornalístico- literária, em cujas páginas surgiram publicados os primeiros capítulos de “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”. Apesar de haver existido somente até o quarto número, a revista não passou despercebida do olhar atento de José Veríssimo. Ele reportaria suas impressões na prestigiosa Revista Literária do importante Jornal do Commercio. Pela primeira vez o nome de Lima Barreto seria divulgado para o grande público.

As concepções revolucionárias a respeito dos objetivos da obra de arte e do papel do escritor engajado com a problemática nacional, podem ser exemplificadas em algumas citações transcritas de seus escritos:

“A obra de arte tem que dizer o que os simples fatos não falam. E eles estão aí para fazermos grandes obras de arte… Ela tem o destino de revelar umas almas às outras, de restabelecer entre elas uma ligação necessária ao mútuo entendimento entre os homens.”

“Os escritores brasileiros não deveriam perder tempo nem amesquinhar-se em cantar cavalheiros de fidalguia suspeita e damas de uma aristocracia de armazém por atacado.”

“A arte deve ser um instrumento de edificação moral da população. Devemos mostrar que um negro, um índio, um português ou um italiano podem-se entender e se amar, no interesse comum de todos nós.”

“A solidariedade humana, mais que nenhuma outra coisa, interessa ao destino da humanidade.”

Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro, em 1881. Era filho de um tipógrafo, negro liberto, e sua mãe era professora primária, também descendente de escravos.

Concluiu o curso secundário na Escola Politécnica, contudo, a falta de dinheiro obrigou-o a abandonar a faculdade de Engenharia. Sustentava-o o emprego como escrevente na Secretaria de Guerra, obtido graças à indicação de seu padrinho, o Visconde de Ouro Preto.

Durante toda a vida enfrentou tanto o preconceito por ser mestiço quanto por ser um revoltado. Pobre desde o nascimento e por toda a vida, a solidão e a boemia levaram-no ao alcoolismo. Crises de alucinações e delírios provocaram a sua internação por duas vezes na Colônia de Alienados da Praia Vermelha. Seus sofrimentos na Colônia foram relatados de forma poética em O cemitério dos vivos.

Lima Barreto faleceu no primeiro dia do mês de novembro de 1922, vítima de ataque cardíaco, aos quarenta e um anos de idade, reconhecido mais como jornalista de vanguarda, que pela enorme contribuição literária deixada para a posteridade.

Logicamente, o emprego na Secretaria de Guerra lhe trazia entraves à livre expressão do seu pensar. “Durante os quinze ou dezesseis anos em que guardei as conveniências da minha situação burocrática, comprimi a muito custo a minha indignação e houve mesmo momentos em que ela, de certo modo, arrebentou”. Um desses arrebentar foi “Policarpo Quaresma”, sátira política pouco igualável no romance brasileiro. Outro foi Clara dos Anjos, um libelo literário contra o racismo sofrido pelos negros e mestiços.

A maior parte das crônicas, ensaios e materiais jornalísticos foram originados entre 1918 e 1922, após a aposentadoria por doença. Alguns meses antes de falecer ele organizou o material jornalístico sob o título de “Bagatelas”, publicado anos após. São escritos coloquiais e descuidados, quase familiares, fora do tom formal de seu tempo.

Sem ser panfletário, Lima Barreto esgrimia uma áspera crítica política, social e de costumes. Nenhum cronista de sua época soube como ele perceber as consequências políticas do pós Primeira Guerra Mundial e denunciou a farsa de Versailles, “que produziu um tratado de paz cujas condições e cláusulas trazem em seu bojo a próxima guerra”.

Pacifista convicto, expressava o sentido do humanismo: “o objetivo da civilização não é a guerra, mas sim, a concórdia entre os homens de diferentes raças e de diferentes partes do planeta; é o aproveitamento das aptidões de cada raça ou de cada povo, para o fim último do bem estar de todos os homens”.

De formação eclética, heterodoxa, uma mistura de positivismo com anarquismo e pitadas de um liberalismo a la Spencer, ele se auto enquadrava filosicamente como um maximalista. No artigo intitulado “No ajuste de contas”, o autor propõe uma série de medidas que a seu ver, caso implementadas, viriam resolver a maioria dos problemas brasileiros. Com coragem, Lima Barreto declara que se inspirara na Revolução Soviética para propô-las: “revolução que viera abalar não apenas tronos, mas fundamentos de nossa vilã e ávida sociedade burguesa… não posso esconder o desejo que tenho de ver um movimento semelhante aqui, de modo a acabar com a chusma… precisamos deixar de panacéias, a época é de medidas radicais.”

O jornalista Lima Barreto foi, sem dúvida, o crítico mais agudo da República Velha, rompendo com o nacionalismo ufanista e pondo a nu a roupagem republicana que manteve os antigos privilégios de políticos, de famílias aristocráticas e de militares. No Manifesto Maximalista ele expressa um ardente desejo de revolução social: “Cabe aos homens de coração desejar e apelar para uma violenta convulsão que destrone e dissolva de vez essa societa sceleris de políticos envolvidos com comerciantes, industriais, jornalistas ad hoc, que nos esfaimam, emboscados atrás das leis republicanas.”

Quando a greve insurrecional de 1918 eclodiu no Rio de Janeiro, assim como já havia feito com a greve de 1917 em São Paulo, solidarizou-se imediatamente com a mesma. Em Carta Aberta ao Presidente Rodrigues Alves, denuncia a violência e as calúnias policiais, amplamente difundidas pela Grande Imprensa do ponto de vista da repressão. “Se o chefe de polícia tivesse expedido uma circular a tal respeito, em papel com o timbre da polícia, a obra sairia igual a todos os artigos de nossos grandes jornais.”

Num período em que o Congresso Nacional aprovava açodadamente as leis de excessão contra os movimentos grevistas, foi do jornalista mulato a voz de mais alta denúncia. “É essa a República que desejamos?”

Foi Lima Barreto quem cunhou em nossa imprensa o termo plutocratas para os representantes de nossas elites corruptas. “O Estado atual é o ‘dinheiro’ e o ‘dinheiro’ são os plutocratas que açambarcam, que fomentam guerras, que elevam vencimentos para aumentar os impostos, de forma a drenar para seus cofres todo o suor e todo o sangue do País, em forma de preços e juros.”

Os plutocratas também eram os latifundiários e nosso escritor tinha claro, em 1920, que a reforma agrária era a condição indispensável para o livre desenvolvimento da economia nacional. Para ele era necessário antes de tudo, “dividir a propriedade agrícola, dar a terra ao homem que efetivamente nela trabalha e não ao doutor vagabundo e parasita, que vive na Casa Grande, no Rio ou em São Paulo”.

As ilusões e, após, as desilusões do major Policarpo Quaresma estavam intimamente ligadas às condições da vida rural brasileira. “Havendo tanto barro, tanta água, porque as casas não eram de tijolo e não tinham telhas?” “Pensou ser um homem … mas aquilo era uma situação de camponês da Idade Média e começo da nossa: era o famoso animal de La Bruyère que tinha voz humana articulada.”

Destoava da grande maioria dos jornalistas de seu tempo os sentimentos anti-ianques do nosso grande escritor negro. O estilo de vida que a burguesia norte-americana pretendia apresentar ao mundo como padrão ideal da sociedade capitalista, como o supra-sumo da ordem e da prosperidade, era o aspecto que mais execrava, daí os seus ataques aos “hipócritas norte-americanos”. Dizia que o “fundo do espírito americano é a brutalidade”. E denunciava com sarcasmo e sem medo aqueles colegas que se embasbacavam diante do colosso: “Nós só vemos dos Estados Unidos o verso, mas não vemos o reverso ou o avesso; e este é repugnante, vil, horroroso… Quando os americanos falam em paz e outras coisas bonitas, é porque premeditam alguma ladroagem ou opressão.” Em “O nosso ianquismo”, Lima Barreto resumiu tudo numa frase: “ no fundo, não passamos de um disfarçado protetorado”.

Pese toda a repulsa que lhe inspirava a República Velha, assim como a revolta contra a subserviência ao “ grande irmão do norte”, nosso escritor jamais se permitiu o pessimismo em relação ao desenvolvimento de nosso País. E previu o que, felizmente, após quase um século, ensaia alguma evolução:

“Não dou cincoenta anos para que todos os países da América do Sul, Central e México se coliguem a fim de acabar de vez com essa atual pressão disfarçada dos ianques sobre todos nós, e que a cada dia se torna mais e mais intolerável.”

Texto de Carlos Russo Jr


SOBRE O AUTOR 

Carlos Russo Jr. pertence à geração de 1968. Já neste ano estudava Medicina na Universidade de São Paulo. Líder estudantil a repressão obrigou-o a deixar a faculdade e atuar na clandestinidade. Foi preso político em 1970 e condenado a 14 anos de prisão; libertado por condicional exilou-se na Argentina, onde permaneceu até o golpe militar de 1976. Retornou ao Brasil semi-clandestino. Ingressou em 1979 na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo e formou-se em 1983. Pós-graduado em negócios pela FBM, atuou na área de saúde até sua aposentadoria em 2010. Desde então, dedica-se à Literatura e Filosofia, mantendo militância política na esfera de defesa dos direitos humanos.



FALANDO DE TRADUÇÃO


O CORVO – GÊNESE, REFERÊNCIAS E TRADUÇÕES DO
POEMA DE EDGAR ALLAN POE  


Traduzir é uma arte, uma arte exigente, uma arte sutil. Claudio Abramo em “O corvo – Gênese, referências e traduções do poema de Edgar Allan Poe” deixa a sutileza de lado e apresenta seu indispensável trabalho, de critica e análise, sobre a tradução. A regra vigente no Brasil e, segundo sua experiência e estudo, como deveriam trabalhar nossos tradutores. Ou melhor, ele também analisa traduções de estrangeiros. 


O objeto do trabalho de Claudio é o poema “The Raven”, apresentado no original, e em várias traduções. De Machado de Assis, passando por uma tradução em prosa de Abramo e traduções de Baudelaire e Mallarmé. 

A tradução é um campo que ainda não recebeu a devida atenção. “O corvo – Gênese, referências…” é obra indispensável aos cursos de tradução em nossas universidades. Tradução, essa terra de ninguém, campo onde aventureiros, escudados nas máximas “traduzir é trair”, “transcriação e as liberdades daí advindas” ou “traduzir é reescrever” conseguem desfigurar completamente uma obra. Este aprendiz, também no ofício de traduzir, entende que no centro desse debate se encontram a tradução, as várias formas, e o original. O grau de equivalência do texto de chegada em relação ao texto de partida. Equivalência quer dizer sonoridade? Para alguns sim. Priorizar sons e ritmos, deixar a semântica em segundo plano, esse o modus operandis da maioria tradutora brasileira. 

Claudio Abramo não se alia a tal corrente. Entende que ao agir dessa forma a tradução despreza o que há de mais importante no poema. 

O trabalho de Claudio Abramo é de uma riqueza rara em livros de critica literária. Aqui, além das questões técnicas estão bastante evidentes o estudo entusiasmado (só para não dizer apaixonado) e a coragem com que expõem sua insatisfação aos rumos tomados pela tradução no Brasil. O autor rema contra a corrente e, como não sou de ficar em cima do muro, pulo para o interior de seu barco. 

Coragem, pois aponta equívocos no trabalho do, para muitos – não me incluo – intocável, Machado de Assis. E a coisa se torna ainda mais grave, Claudio revela a origem de tais problemas. Nada mais nada menos que a tradução de Baudelaire. Pois é, Machado de Assis não teria usado o original “The Raven”, trabalhou a partir de “Le Corbeau”, a tradução assinada por Baudelaire e repetiu os erros do poeta francês. 

Claudio Abramo aponta os erros, diz como seria o correto e justifica lançando mão de notas e observações. Sobre a tradução de Fernando Pessoa, por exemplo: 

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça, 

Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais. 

Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento, 

Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais, 

Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais, 

Foi, pousou, e nada mais. 

A seguir Abramo esclarece: 

Os tempos ancestrais não são “bons” no original, mas “santos”. Mais adiante na 12ª estrofe, Pessoa coloca “maus tempos ancestrais” um jogo de contrários que de modo algum está presente no original. Pessoa identifica Palas a Atena, uma imprecisão comum. 

Dentro da imensa gama de teorias da tradução, escopo, equivalência (em seus intermináveis tipos) você, caro tradutor, com certeza encontrará ao menos uma que preencha suas expectativas ou limitações. 

Tem para todos os gostos. Pobre leitor monoglota. Engolirá cada coisa! 

A tradução não é uma terra de ninguém, tampouco um laboratório a produzir clones, mas deixar nítida sua origem, a paternidade se é que me faço entender. 



Texto de Luiz Horácio Rodrigues 

Fonte: Poiésis (www.novasaquarema.com.br


SOBRE O AUTOR

Luiz Horácio, gaúcho, jornalista, dramaturgo, roteirista de cinema. Autor do documentário sobre o escritor Fausto Wolff - “Fausto Wolff ou Humilhando a Ignorância da Minha Angústia” Colaborador do jornal Rascunho e alguns sites. Cinquenta e sete anos. [Outubro de 2003]




quarta-feira, 8 de outubro de 2014

O QUE É LITERATURA?


"A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova realidade. Passa, então, a viver outra vida, autônoma, independente do autor e da experiência de realidade de onde proveio. Os fatos que lhe deram às vezes origem perderam a realidade primitiva e adquiriram outra, graças à imaginação do artista. São agora fatos de outra natureza, diferentes dos fatos naturais objetivados pela ciência ou pela história ou pelo social.
         O artista literário cria ou recria um mundo de verdades que não são mensuráveis pelos mesmos padrões das verdades fatuais. Os fatos que manipula não têm comparação com os da realidade concreta. São as verdades humanas gerais, que traduzem antes um sentimento de experiência, uma compreensão e um julgamento das coisas humanas, um sentido da vida, e que fornecem um retrato vivo e insinuante da vida, o qual sugere antes que esgota o quadro.
          A Literatura é, assim, a vida, parte da vida, não se admitindo possa haver conflito entre uma e outra. Através das obras literárias, tomamos contato com a vida, nas suas verdades eternas, comuns a todos os homens e lugares, porque são as verdades da mesma condição humana."
(Afrânio Coutinho)

Alguns Conceitos sobre Literatura

"Arte literária é mimese (imitação); é a arte que imita pela palavra." (Aristóteles, filósofo grego, séc. IV a.C)
"A literatura é a expressão da sociedade, como a palavra é a expressão do homem." (Louis de Bonald, pensador e crítico do Romantismo francês, início do séc. XIX)
"O poeta sente as palavras ou frases como coisas e não como sinais, e a sua obra como um fim e não como um meio; como uma arma de combate."  (Jean-Paul Sartre, filósofo francês, séc. XX)
"É com bons sentimentos que se faz literatura ruim."  (André Gide, escritor francês, séc. XX)
"A poesia existe nos fatos"   (Oswald de Andrade, poeta brasileiro, séc. XX)

Literatura Segundo o Dicionário 


literatura (Do lat. litteratura.] S.f. 1. Arte de compor ou escrever trabalhos artísticos em prosa ou verso. 2. O conjunto de trabalhos literários dum país ou duma época. 3.Os homens de letras: A literatura brasileira fez-se representar no colóquio de Lisboa.4. A vida literária. S. A carreira das letras. 6. Conjunto de conhecimentos relativos às obras ou aos autores literários: estudante de literatura brasileira; manual de literatura portuguesa. 7. Qualquer dos usos estéticos da linguagem: literatura oral [p.v.] 8. Fam. Irrealidade, ficção: Sonhador, tudo quanto diz é literatura. 9. Bibliografia: Já é bem extensa a literatura da física nuclear. 10. Conjunto de escritores de propaganda de um produto industrial.
(Dicionário Aurélio Eletrônico)


Fonte: http://www.literaturabrasileira.net/